Por Revista Fórum
Em entrevista ao jornalista Luís Nassif, o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, fez graves acusações contra o atual governador Cláudio Castro (PL) e o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar. Segundo Garotinho, ambos teriam recebido propina em barras de ouro de uma empresa que mantém contratos com o governo estadual.
Sem saber como disfarçar a origem ilícita do metal, Castro e Bacellar teriam encaminhado o ouro ao joalheiro e ex-deputado estadual conhecido como TH Joias, preso sob a acusação de lavagem de dinheiro, tráfico de armas e colaboração com o Comando Vermelho (CV). De acordo com investigações, o ouro teria sido utilizado na fabricação de joias vendidas a celebridades e a integrantes do crime organizado.
Ligação entre TH Joias e o Comando Vermelho
TH Joias, que obteve 15 mil votos nas últimas eleições, chegou a assumir o mandato de deputado estadual por meio de um habeas corpus, após a morte de um parlamentar. A vaga surgiu quando Cláudio Castro nomeou Rafael Picciani para a Secretaria de Esportes, o que abriu espaço para o suplente — TH Joias — tomar posse. A manobra, segundo adversários políticos, teria contado com o aval de Bacellar, presidente da Alerj.
Enquanto ocupava o cargo, TH nomeou assessores ligados ao Comando Vermelho, que hoje também se encontram presos. A Polícia Federal revelou que eles prestavam favores a Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, apontado como o “tesoureiro” do CV nas comunidades da Maré e da Penha, na Zona Norte do Rio.
Durante as investigações, a PF apreendeu celulares e imagens que indicam um relacionamento íntimo entre TH Joias e o traficante.
Delação premiada e bastidores políticos
Garotinho afirmou que TH Joias estaria disposto a fazer delação premiada, alegando ter sido “abandonado” pelos antigos aliados. O ex-governador antecipou que uma “bomba política” deve explodir no Rio de Janeiro na próxima semana, relacionada a esse caso.
Com a volta de Rafael Picciani à Assembleia Legislativa, TH Joias perdeu o mandato e a proteção parlamentar. Ele esperava que a Alerj anulasse sua prisão, o que não ocorreu.
Desdobramentos da Operação Zargun
A investigação, denominada Operação Zargun, também mira Luiz Eduardo Cunha Gonçalves (Dudu) — assessor de TH —, o delegado federal Gustavo Steel e o advogado Alessandro Pitombeira Carracena, que já exerceu cargos importantes tanto na Prefeitura do Rio, sob gestão de Marcelo Crivella, quanto no governo Cláudio Castro, como secretário de Esporte e Lazer e subsecretário de Defesa do Consumidor.
Carracena teria atuado em conjunto com Gutemberg Fonseca, então secretário de Defesa do Consumidor, ambos mencionados em mensagens apreendidas pela PF. Em uma delas, o traficante Índio do Lixão teria buscado “apoio político” para lançar-se candidato a vereador em Duque de Caxias.
Em um diálogo interceptado, Carracena teria dito:
“Já falei com eles. Falei que você é firme e que é importante para ele ter você ao lado.”
O traficante, frustrado por não receber o prometido apoio, respondeu:
“Não vou mais incomodar ele, doutor. Não posso forçar se no coração dele ele não quer me ajudar.”
Relações com o bolsonarismo
Gutemberg Fonseca foi indicado por Flávio Bolsonaro para ocupar cargos tanto na Prefeitura do Rio quanto no governo estadual. O senador, no entanto, negou vínculos com Carracena, afirmando tê-lo encontrado apenas “duas vezes”.
Antes de ingressar no serviço público, Carracena atuou como advogado de milicianos. Nas redes sociais, voltaram a circular imagens de um evento em Búzios em que TH Joias aparece ao lado de Flávio Bolsonaro e também de Cláudio Castro.
Envolvimento direto com o crime organizado
O assessor Dudu seria o responsável por intermediar transações financeiras para o Comando Vermelho, realizando operações de câmbio para lavagem de dinheiro. Além disso, teria negociado o afastamento de uma base policial em Gardênia Azul, na Zona Oeste, em troca de R$ 90 mil.
Inquérito federal
Diante das revelações, o ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de um inquérito específico na Polícia Federal para apurar a lavagem de dinheiro de facções e milícias e o possível envolvimento de agentes públicos do Estado do Rio de Janeiro nesse esquema.

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